sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

MEMÓRIAS ETNOGRÁFICAS - A LAGARIÇA

A LAGARIÇA E O VINHO

O vinho produzido no Casal é de fraca qualidade, porque os terrenos e o clima não são propícios para a vinha. No entanto, muitas famílias faziam e ainda fazem vinho com as uvas das videiras plantadas nos cômoros das fazendas, para deixar o terreno livre para outras culturas.

Consta que um proprietário da Casa Grande, construção actualmente em ruínas, mandou fazer uma lagariça (lagar pequeno), cavada numa laje de granito, que consta de duas partes: uma circular, o esmagadouro, com ligeira inclinação, com cerca um metro e meio de diâmetro, onde eram esmagadas as uvas, especialmente por crianças, com os pés descalços, bem lavados, e a outra em forma de pequeno tanque, rectangular, com cerca de 50 centímetros de altura, para onde, pela bica, escorria o sumo ou mosto, que era apanhado para cântaros e transportado para as dornas e talhas, nas lojas, para fermentar, na preparação do vinho. Alguns idosos, nos anos quarenta do século passado, diziam que a lagariça vinha do tempo dos Romanos.

Depois da vindima, os rapazes ou as gentes mais carecidas iam ao respigo, apanhar as uvas que ficaram nas videiras.

Contavam os velhos que, na lagariça, antes dos lagares de azeite trabalharem, também algumas pessoas esmagavam azeitona, para prepararem azeite, que apanhavam no tanque, que juntavam, depois de vir ao de cima da água contido no tanque da lagariça.

A lagariça, situada no lado norte da Rua da Lagariça, em frente da bifurcação desta rua com um beco que dá acesso a três habitações, continuando uma vereda para o lugar das Cortes, foi utilizada nas duas primeiras décadas do século XX, quer pelo dono da Casa Grande, para esmagar as uvas produzidas no Casal e vindas de outras localidades, quer pelas gentes do Casal, ficou na toponímia da aldeia, dando o nome ao lugar onde se encontra e também à rua referida.

Em 1970, a lagariça, que fazia parte do património histórico da aldeia, foi tapada com entulho e cimento, para nivelar o solo adjacente a uma moradia, que foi construída, nos anos trinta do século XX, e reconstruída naquela data.

Lagariça, 1970.

Lugar da Lagariça, 1970.



MEMÓRIAS ETNOGRÁFICAS - O RAMO



Tirar o Ramo para a Festa de Santo António

No Domingo Gordo ou Domingo de Carnaval, pela manhã, era tirado o Ramo para a festa de Santo António, a realizar no terceiro domingo do mês de Agosto. Os festeiros, munidos de varas e do rol para relacionarem o nome dos dadores das ofertas, percorriam as casas solicitando o ramo, que constava de enchidos (chouriças, morcelas, farinheiras e chouriços mouros), com predominância para as chouriças, oferecidos pelas famílias que tinham feito a matação do porco.

De porta em porta, os festeiros e auxiliares iam enfiando, nas varas, o enchido oferecido, até percorrerem todas as ruas.
Os produtos oferecidos para o Ramo eram levados para o largo da capela ou para a sede da Associação Cultural e Recreativa, para serem leiloados após a celebração da Missa dominical, cuja receita revertia para as despesas com a festa de Santo António.
Actualmente, com menos matações e maiores possibilidades monetárias, a maior parte das ofertas passou a ser em dinheiro.
Festeiros tiram o Ramo, 1992.

O Ramo, nas varas, para ser leiloado,1992.

Santo António na capela do Casal, 1992.





Casal da Serra - Varanda da Gardunha

O Blogue Casal da Serra - Varanda da Gardunha tem por finalidade a publicação de dados históricos e registos etnográficos sobre a aldeia de CASAL DA SERRA, freguesia de São Vicente da Beira, situada num interessante lugar da vertente sul da Serra da Gardunha.